Para Sayid, Babi e os que virão.
Eu comecei a perceber o mundo muito cedo. Eu notei um dia que meu pai não voltou para casa. No outro dia ele também não voltou e no outro , outro e outro… já era natal e eu entendi que ele não apareceria mais. Na nossa velha casa de dois cômodos ele sempre me fazia pendurar uma meia na porta para receber o presente. Meu pai tinha ido embora para sempre e o natal foi junto.
A impermanência é um fato da vida. O tempo manda em tudo e aquilo que parece nosso, na verdade nunca é. O Natal se foi e junto levou o papai Noel. No lugar deles surgiu algo muito mais poderoso. Uma potência de vida e coragem que nunca se conformou.
É essa ideia que deve permanecer mesmo que a impermanência insista. Estar presente não resolve tudo, mas pode inspirar, apoiar, ajudar. A alegria se instala no lugar da falta quando percebemos que não há presentes, mas há presença. A presença que meu guiou foi, como tudo na minha vida uma contradição, mas uma contradição belíssima. Foi carinhosa e dura, forte e fraca e nos trouxe, a todos nós, até aqui.
Naquele natal eu chorei inconformado com o tal Noel. Depois sorri para a vida sem presentes, sem pai, mas com o encanto da mãe. Desejo estar à altura do privilegio que recebo toda vez que ela me chama “meu filho”.