Por Rosilene Caramalac e Ângelo Ferro
Resumo: Frequentemente nos deparamos com matérias jornalísticas que relatam a violência contra os corpos das travestis, desfiguram-no, queimam-no, apedrejam-no, em suma, são crimes brutais que remetem a um retorno à barbárie. Este artigo tem como objetivo realizar discussões acerca da violência contra LGBTQIA+, dando ênfase na violência contra travestis. A base epistemológica refere-se à Psicanálise, por seus estudos possibilitarem introduzir a noção de pulsão, que discorre sobre o corpo para além do campo biológico, e por permitir uma compreensão das contradições presentes na sociedade. Justifica-se pela emergência de estudar e discutir acerca desta temática, haja vista que o Brasil é líder mundial em assassinato de travestis. Sobre a violência direcionada para esses corpos, em particular, as contribuições da psicanálise possibilitam, dentre inúmeras questões, analisar dois pontos em especial: a perspectiva do corpo e a ideia de infamiliar, como algo que retorna. Para concluir recorre-se ao princípio ético de Lacan: a psicanálise diante da psicose não deve recuar. Assim, usando tal pensamento, podemos afirmar que diante das questões LGBTQIA+, em particular, nas questões relacionadas aos corpos das travestis, a psicanálise não deve recuar. A psicanálise deve ampliar a ideia de setting analítico, colocar os divãs nas praças onde estão, inclusive, os corpos mais vigiados.
Palavras-chave: Violência; Corpo; Travesti; Psicanálise.
TRANSVESTILITIES AND PSYCHOANALYSIS: fetishized body,
violence and unfamiliar
Abstract: Commonly, news are seen reporting the violence transvestite’s bodies, destruction: it is disfigured, burnt, stoned, thus, being considered brutal crimes that refer to barbarism. This paper has as a goal discuss topics about the violence against LGBTQIA+ people with an emphasis in violence against transvestites. The epistemological basis used in this paper refers to Psychoanalysis, due to its studies allow to introduce the notion of pulsion, that support us to understand body beyond the biological field and allow to have a comprehension of the society’s contradictions. Brazil is the leader country when the topic is transvestite’s murders, and that is why, the need to study and discuss about this subject. Regarding the violence suffered to these transvestite bodies, the contributions of Psychoanalysis allow, among many questions, to analyze two special points: the perspective of the body and the idea of unfamiliar as something returnable. Thus, it is important to denote that there is an ethical position of Lacan that is quite widespread: Psychoanalysis against psychosis should not recede. Thereby, using this thought as a basis, it can be assured that regarding the LGBTQIA+ questions, in particular, questions related to the transvestite’s bodies, Psychoanalysis should not recede. Psychoanalysis should be, aggrandizing the idea of the analytical set, place the divans in the squares where they are, including, the most guarded bodies.
Keywords: Violence; Body; Transvestite; Psychoanalysis.
Introdução – está lá um corpo estendido no chão…
O Brasil, segundo o Dossiê dos Assassinatos e da violência contra Travestis e Transexuais brasileiras em 2020, publicado pela ANTRA (Associação de Travestis e Transexuais), é ao país líder de assassinato no ranking mundial no mundo, e esta posição é ocupada desde o ano de 2008, conforme os dados da ONG Transgender Europe (TGEU). Acerca de práticas de violência verbal e física, os dados são defici- tários, assim como os dados completos de assassinatos motivados por crime de ódio, isso porque os Estados carecem de padronizações para registrar os crimes de transfeminicídio, além de a polícia não reconhecer algumas práticas como atos de violência.
Nesse morticínio de todos os dias, é urgente que o psicanalista, bem como tantos outros profissionais da área da humanidades, re- flita sobre sua prática, não entendendo que vão encontrar possíveis respostas nos textos exegéticos clássicos, das bibliografias europeias, nas salas chiques rodeadas de móveis produzidos por designers famosos. Importante marcar ainda, que o recurso literário (artísti- co ou teórico) nos auxilia a pensar as duas saídas que a sociedade tradicional e antiquada impõe às travestis: a prostituição ou serem vítima de violência.
Destaca-se que a psicanálise nasceu na contracorrente da ver- borreia tradicionalista, sendo extremamente subversiva, debruçou-se com seriedade e empenho para ir além do establishment, quebrando paradigmas que há mais de um século continua ecoando em nossa cultura. A saber, a denúncia que Freud (1895/1996) fez dos males que a sociedade e a civilização trouxeram às mulheres, sendo que ele ofereceu um espaço físico e subjetivo para que os sujeitos falas- sem sobre si, sobre suas angústias e sobre o que há de mais íntimo em cada um. Ao postular isso em uma sociedade vitoriana, Freud foi motivo de desmerecimento intelectual e taxado de amoral com a publicação de A interpretação dos sonhos (1900), que inaugura um conceito fundamental para a psicanálise, a saber, o inconsciente, bem como, os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905), que traz uma distinção fundamental: as crianças tem um corpo erógeno e existe uma sexualidade infantil, marcando assim uma inversão irreversível ao constatar que, por intermédio da linguagem – a fala, não somos mais regidos pelo instinto como os animais, mas atravessados pela pulsão. Freud (1905), muito antes do texto As pulsões e seus destinos (1915), introduziu sua teoria das pulsões e esclareceu questões sobre o desejo o qual tirava o ser humano do campo unicamente da biologia. Com isso, a psicanálise compreende o corpo para além da questão biológica, o corpo é erógeno, é desejante e, como tal, pode depreen- der seu desejo para qualquer objeto a fim da busca pela satisfação.
Corpo fetichizado… A violência da noite – um preto, um pobre, uma mulher sozinha, um rapaz delicado e alegre que canta e requebra, é demais!
Minha mãe pariu
Gêmeos, O medo e eu.
(Hobbes)
Quando pesquisamos ‘contos sobre travesti’ no Google, aparece – massivamente – contos eróticos carregados de imagens e cenas de pornografia, de modo que, percebemos a erotização desses corpos e uma sociedade que os trata de maneira fetichizada. Esse fato induz a uma ideia de que travestis são sujeitos que devem servir, entre outros, os ‘homens de bem’ na surdina, nos becos, durante à noite, a fim de satisfazê-los em seus desejos sexuais mais íntimos, em suas fantasias mais escondidas. Moira (2018), em seu poema Pela décima vez, relatou a vontade de um homem casado em transar com ela sem camisinha, arvorado com o discurso de ser casado, doador de sangue e que pagaria mais pelo ‘serviço’. Segundo palavras da própria autora:
Confia em mim, sou casado,/ Doador de sangue e, por Deus,
/ Primeira trava com quem eu/ Saio é você, olha o estado/
Em que ele fica, babado: / Te dou mais dez, nem assim?/ Você tem cara que fez/ Teste, o meu deu nem um mês;/ Aliança e tudo, eu sou, sim,/ Casado, ó, confia em mim. (MOIRA, 2018, p. 110).
O trecho relata o episódio de um sujeito que procura a travesti para satisfazer seus desejos e fetiches às escondidas e, pelo fato de remunerar o ato sexual, quer ter o direito de exigir transar sem camisinha. O excerto acima revela, também, as condições de traba- lho enfrentadas pelas travestis que vivem da prostituição, a autora continua, em outro texto do mesmo livro chamado Objeto de desejo, corpo abjeto, a relatar as condições precárias de trabalho a que as tra- vestis prostitutas passam no Brasil; aponta, também, que o tempo de prostituição a fazia pensar em como as prostitutas são obrigadas a lidar, enquanto prestam serviços, com seus preconceitos e limita- ções, uma vez que deve desconstruí-los para atender seus clientes, muitas vezes, sem distinção. Elas enfrentam os mais variados tipos de sujeitos, no entanto, esses se igualam no aspecto de levarem uma vida que a sociedade via como digna: trabalhadores, tinham casa e a maioria tinha uma família.
Vejo trabalhadores recém-saídos das fábricas, das construções, virem requisitar meus serviços por vinte, trinta reais, antes de voltar para casa, para a família, eu sendo a recompensa pelo dia extenuante…o fato de me pagarem tão pouco […] me dá o direito de exigir higiene (“cobro pouco mas venham limpinho”) ou o valor irrisório é justamente o que determina a minha obrigação a aceitar o que vier? Mas se quisesse eu exigir higiene, onde se higienizariam, uma vez que vêm direto do serviço, uma vez que os atendo o mais das vezes no carro ou, pior, atrás duma moita qualquer, no escurinho do matel? (MOIRA, 2018, p. 124).
Com este fragmento do livro escrito por Moira (2018), é possível compreender o lugar da travesti no imaginário da sociedade brasileira, não porque elas – em sua grande maioria – queiram ocupar este lu- gar, mas são socialmente impelidas as ocupar este espaço. O corpo T, aquele que subverte o gênero imposto pela sociedade, de acordo com uma sociedade preconceituosa, conservadora, transfóbica, é o corpo que está para a prostituição, a marginalidade, a noite, e não em outros lugares como a escola, universidade, cargos em grandes empresas, e assim por diante. Temos poucas informações no Brasil sobre travestis que chegam a ocupar cargos no mundo do trabalho de destaque. O gráfico sobre a situação laboral das travestis no Brasil do Dossiê dos Assassinatos e da violência contra Travestis e Transexuais brasileiras em 2020 aponta que 90% trabalham com a prostituição, 6% trabalham no mercado formal e 4% trabalham na informalidade (ANTRA, 2021, p. 45). Ora, deste modo o Google, ao mostrar contos eróticos e prostitui- ções como resultados da pesquisa feita com o descritor ‘contos sobre travestis’ atende uma demanda da sociedade em querer consumir somente conteúdos eróticos dessas pessoas. Essa informação se coa- duna com dados que apresentam que o Brasil ocupa, o primeiro lugar em acessos a conteúdos pornográficos com pessoas trans1.
Em contrapartida, outra busca foi feita sobre a temática, e ao di- gitar a palavra ‘travesti’, o Google nos apresenta inúmeras notícias de violência dirigidas aos corpos das travestis, e essas vão de agressões verbais e físicas até mesmo assassinatos brutais com grande carga de ódio. Isso porque, geralmente, destroem o corpo, desfiguram-no, quei- mam, apedrejam, são crimes brutais que remetem a um retorno à bar- bárie, de acordo com os termos de Adorno e Horkheimer (1944/1985).
Segundo o Dossiê dos Assassinatos e da violência contra Travestis e
Transexuais brasileiras em 2020, elaborado pela Associação Nacional
1 Segundo os sites: https://revistahibrida.com.br/2020/05/11/o-paradoxo-do-brasil- no-consumo-de-pornografia-e-assassinatos-trans/ e https://www.metro1.com. br/noticias/brasil/108358,e-o-pais-que-mais-pesquisa-pornografia-trans-e-o-que- mais-mata-diz-presidente-de-associacao-sobre-mortes-em-2020.
de Travestis e Transsexuais (ANTRA), não devemos fazer uma leitura superficial de cada violência e assassinato a travestis e transsexuais no país, mas sim, compreender que o Brasil, em 2020, segue a lide- rança de assassinato no ranking mundial no mundo, e esta posição é ocupada desde o ano de 2008 conforme os dados da ONG Transgender Europe (TGEU). (ANTRA, 2021).
A fim de compreender o requinte de crueldade dos assassinatos, cabe citar a descrição presente no dossiê da ANTRA (2021) do crime contra o corpo de uma adolescente transsexual no Estado do Ceará:
Com 13 anos, ela foi espancada até a morte. A lagartinha que queria ser borboleta. Menino que era menina, o rosa do azul. Ela tinha sonhos. Tímida, era a felicidade em vida. Sonhava em ser livre e famosa. E por querer ser livre levou pauladas, chutes e pontapés. Sexualizaram sua existência e vandalizaram sua alma. Teve seu corpo deixado em um terreno baldio, com o mesmo ódio e crueldade que levou a Dandara e outras. A polícia? Como sempre, descartou ser um crime de ódio. O suspeito? Preso, 17 anos, assassino confesso. Narrou o gozo mortal à polícia de forma fria e em riqueza de detalhes. […] E de repente tudo acabou. Porque o ódio passado de geração para geração, fruto da ideologia cisgênera, não suporta a liberdade. Antes mesmo d’ela fazer 14 cortou suas asas, matou seus sonhos e enterrou sua identidade. Quem protege as crianças LGBTI? Quem será a próxima? (ANTRA, 2021, p. 38-39).
Diante do exposto, é gritante que a violência possui diversas vicissitudes e, além da autorização concedida pelo Estado para reti- rar a vida de tantos corpos vigiados e marginalizados, esse mesmo Estado faz com que a instituição que deveria servir para proteger – a polícia –, seja aquela que também pratica atos de violências, tanto a violência objetiva a partir de agressões e assassinatos, quanto a vio- lência subjetiva, ao não proteger o outro ou não levar em consideração
elementos que configuram rime de ódio. Assim, o Estado deve ser responsabilizado por aqueles corpos assassinados por transfobia, aqueles corpos a que são dirigidos atos de violência.
A violência ao corpo LGBTQIA+ começa, também, no seio fa- miliar. De acordo com dados do Dossiê dos Assassinatos e da violência contra Travestis e Transexuais brasileiras em 2020:
Devido ao processo de exclusão familiar, social e escolar, como já mencionado em diversas ocasiões e em pesquisas anteriores, estima-se que 13 anos de idade seja a média em que travestis e mulheres transexuais sejam expulsas de casa pelos pais (ANTRA, 2017) – e que cerca de 0,02% estão na universidade, 72% não possuem o ensino médio e 56% o ensino fundamental (Dados do Projeto Além do Arco-íris/ Afro Reggae). Essa situação se deve muito ao processo de exclusão escolar, gerando uma maior dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho e deficiência na qualificação profissional causada pela exclusão social. (ANTRA, 2021, p. 430).
O outro taxa o corpo travesti como o monstro – fazendo alusão ao texto de Preciado (2019) – o que destoa do imaginário social, o estranho que deve ser eliminado das maneiras mais cruéis que as artimanhas do pensamento humano podem dar conta de elaborar com a finalidade de satisfazer um desejo de extermínio do outro.
Dados apresentados por Almeida e Vasconcellos (2018) sobre a violência contra travestis no ambiente nacional, indicam que:
[…] a expectativa de vida atual de pessoas trans seja de 35 anos (próxima àquela dos brasileiros não escravizados em 1880), enquanto para o restante da população é de 74 anos (mais que o dobro) […] Além de estarem submetidas à violência, as pessoas trans também se encontram em grande vulnerabilidade social, sendo que a maior parte da população é analfabeta ou semianalfabeta. (p. 306).
Freud (1930/1996) postulou que a civilização poderia dominar o desejo de agressão do sujeito “enfraquecendo-o, desarmando-o e estabelecendo no interior um agente para cuidar dele, como uma guarnição numa cidade conquistada” (p. 129). No entanto, essa pro- posição não tenha sido realizada, principalmente quando se fala à agressão contra o diferente, a travesti, o homossexual, de modo que, cabe o questionamento: por que o caminho da astúcia humana foi e tem sido tão violento? Freud (1933/1996) postulou que a razão escla- recida poderia impedir as guerras, de modo que as forças das pulsões destrutivas seriam domesticadas pelo fortalecimento do intelecto e pelos laços amorosos entre os sujeitos, a saber, pelo antagonista da pulsão de morte: Eros.
A psicanálise admite que há no ser humano uma disposição para a agressividade, o qual está diretamente ligada à pulsão de morte e, de acordo com Freud, (1930/1996), essa é um dos maiores impedimentos de se atingir a civilização. Assim, enquanto Thanatos cumpriria seu papel de ser opositor à civilização, Eros estaria à serviço do processo civilizatório. Lacan (1957 -1958/1999), posteriormente a Freud, mas retornando a ele, afirma que “é a violência que, certamente, é es- sencial na agressão, pelo menos no plano humano. Não é a palavra; inclusive, é exatamente o contrário. O que se pode produzir em uma relação inter-humana é a violência ou a palavra” (p. 468). Assim, o referido autor demarca uma violência que supõe ato de agredir diante do impossível de dizer, supõe possibilidades de passagem ao ato, retornando, no real, o gozo que escapa ao sentido. Nessa mesma página, ele faz referência ao que chama de violência propriamente dita, a fim de diferenciá-la do uso que os sujeitos fazem do termo agressividade. A violência fundamentada na civilização consiste na perseguição de todos por todos.
Muitas das violências contra travestis são filmadas e dispostas
em redes sociais, tais como Facebook e Youtube com a finalidade de
se tornarem espetáculos para aqueles que, de uma maneira ou de outra, sentem prazer em ver esse tipo de ato, são um resgate ao que simbolizou o munus gladiatorium2. Assim, como que um gozo, a par- tir do outro, talvez cumprindo a máxima que existem assassinos na sociedade para que o “desejo” assassino de outros sejam satisfeitos. Há um titubear com a dimensão simbólica da vida retratado em cenas de tortura e crueldade – basta resgatar a descrição do assassinato da criança de 13 anos no Ceará.
Deste modo, salta aos olhos que, para além dos assassinatos e da crueldade que ocorrem todos os dias em particular nas comuni- dades pobres e direcionados à população negra, os crimes endere- çados aos corpos trans, gays não se tratam “apenas” de homicídio, de crimes “comuns” ou crimes passionais, mas especialmente de crimes de ódio; um ódio específico, motivado por homofobia e transfobia. Assim, esses crimes são motivados por um tipo de ódio específico, instigado pelas regras cis-heterossexuais e dirigido à população LGBTQIA+, articulando-se com a ideia de infamiliar3 (das Unheimliche).
Há assim, sobre a violência desses corpos em particular, dois pontos na via da psicanálise para serem analisados, com o objetivo de compreender as razões pelas quais determinados corpos são
2 A palavra latina munus significa oferta, ou seja, era um espetáculo oferecido para a população no qual gladiadores lutavam das mais diferentes maneiras, a saber: morte por espada (domnatio ad glaudium), morte pelo fogo (domnatio ad flamas) e a morte que os gladiadores eram lançados a predadores famintos (domnatio ad bestias). Para Han (2017), não significava somente diversão, mas a possibilidade de serem satisfeitas todas as pulsões agressivas dos sujeitos a partir da violência mortal, além de representar o domínio e o poder dos governantes através do sangue e da brutalidade desses ‘espetáculos’.
3 Aqui, faz-se referência ao texto de Freud Das Unheimliche (1919), traduzido do alemão por Ernani Chaves e Pedro Heliodoro Tavarez, da Editora Autêntica. “O unheimeliche é uma negação que se sobrepõe ao alemão heimlich […] a palavra em português que melhor desempenha esse aspecto parece ser “infamiliar”. (2019, p. 10).
considerados “o estranho”, o que precisa ser eliminado de forma bárbara, buscando satisfazer uma pulsão mortífera.
Deste modo, fazendo um recorte das possibilidades para a reflexão, o texto seguirá dois pontos cruciais para a psicanálise: a perspectiva do que é o corpo para a psicanálise e a importância de infamiliar.
Corpo e sexualidade – há um estranho que habita em mim…
Poetry on your body You got it in every way.4
(Sia)
É inegável que a psicanálise foi fundamental para a mudança do discurso sustentado sobre o corpo e a sexualidade. Seu arcabouço teórico efetuou uma crítica contundente ao discurso da psiquiatria da época, na medida em que questionou o papel da hereditariedade e da degeneração. É notório que Freud (1895/1996) cria a psicanálise a partir da experiência com a clínica das histéricas. É a partir dessa perspectiva que se inaugura uma nova compreensão de doença, e com isto, fundamentalmente uma nova concepção de corpo: um corpo que subverte a anatomia e a fisiologia.
Bem conhecemos que a histérica confirmava a estranha relação entre o físico e o anímico, entre o corpo e a psique, já que o interesse de Freud (1895/1996) parte justamente deste corpo que reagia de forma desconcertante com a sua fisiologia expondo, deste modo, sintomas que não possuíam nenhum correspondente orgânico que os explicasse. Assim, o corpo em psicanálise já não pode ser pensado apenas pelo conceito de biológico, como puramente algo no campo do
4 Há poesia em seu corpo. Você a tem em todos os sentidos (tradução nossa).
somático. Esse corpo que está em nós, está muito além do biológico, mesmo sendo biológico também.
O corpo biológico é, portanto, apenas um receptáculo recheado de inscrições simbólicas adquiridas pelo sujeito na sua relação com o outro e com a cultura, relação esta constituída através da linguagem, de um significante que traz marcas ao corpo. Vejam bem, estamos falando em corpo no campo da psicanálise e não em organismo, como nos aponta a biologia. No entanto é preciso marcar que há inegavel- mente, em alguns momentos da obra de Freud, contradições com o exposto acima, como por exemplo, quando assinala a ideia que “a anatomia é o destino” (FREUD, 1905/1996, p. 172), ou ainda, quando identificou na diferença anatômica entre os sexos um ponto determi- nante no complexo de Édipo, trazendo na presença ou ausência do pênis, enquanto órgão, as consequências psíquicas das diferenças, mostrando que é partir dessa dissolução que o sujeito identifica-se e estabelece relações com os objetos. Freud traz a ideia nesses textos que é na saída do Complexo de Édipo, isto é, na castração, que as posições de homem e mulher serão adotadas subjetivamente.5
No entanto, apesar dessas contradições, como já afirmado aqui, Foucault apresenta que, na própria presença da diferenciação dos termos instinkt e trieb, já na obra Três Ensaios sobre a Teoria da Sexua- lidade (1905), não haveria uma correspondência entre a sexualidade na perspectiva psicanalítica e a sexualidade do discurso médico, fundamentado numa anatomia patológica (FOUCAULT, 1963/2000).
Para a psicanálise há uma distinção entre organismo e corpo: o organismo situa-se na ordem estritamente biológica e o corpo de ordem pulsional, libidinal. Sendo assim, poderíamos pensar que
5 Para maior clareza sobre esse ponto buscar os seguintes textos de Freud na obra: A dissolução do Complexo de Édipo (1923); A organização genital infantil (1923); As consequências psíquicas da diferenciação anatômica entre os sexos (1925); Novas conferências introdutórias da psicanálise (1933). Ver ainda Foucault em História da sexualidade, volume I.
nascemos como um organismo, e o corpo só passa a existir quan- do há o rompimento com a natureza e o ingresso na cultura. Para Freud (1915/1996) a pulsão tem origem inconsciente e é uma carga energética que envolve tanto o aparelho psíquico quanto o funciona- mento somático. Pode-se dizer, então, que a pulsão é o representante psíquico das excitações provenientes do corpo; é meio física, meio psíquica e só é conhecida – mesmo no inconsciente – através de seus representantes: a ideia e o afeto.
Garcia-Roza (1998) postula que a pulsão, diferentemente do instinto, não possui objeto fixo, muito pelo contrário, ele é altamente mutável, somente o objetivo da pulsão é fixo, haja vista que todo objetivo da pulsão é a satisfação. Compreendemos, portanto, que o objeto da pulsão é enormemente variável, tanto de um indivíduo para outro, quanto num mesmo indivíduo, e reflete a capacidade humana de se satisfazer com inúmeras e variadas opções. Essa é uma propriedade belíssima, pois quebra qualquer perspectiva normativa da vida, refletindo a riqueza da singularidade humana.
Sobre a pulsão e, consequentemente, sobre o circuito pulsio- nal vale a pena fazer referência às considerações feitas por Lacan (1964/2008), a pulsão tem como origem uma zona erógena e que, de acordo com o autor, esta possui uma estrutura de borda; a tensão pulsional é compreendida como um fecho, o qual a cada tentativa de alcançar sua satisfação sempre retorna sobre a zona erógena (borda). Ou seja, a pulsão tem início na zona erógena (borda), busca alcançar o objeto perdido (objeto a) e, após contorná-lo, volta para a zona erógena (borda). Rudge (1998) esclarece – a partir das leituras de Freud – que qualquer parte do corpo pode se constituir como zona erógena “[…] desde que ofereça condições de evocar prazer. Desde que alguém nela evoque prazer, completa-se” (p. 13).
Compreende-se que o corpo não nos é dado naturalmente, daí não sermos determinados pelo instinto, como ocorre com os animais,
ao contrário, somos seres pulsionais. A linguagem tira o sujeito da horda animalesca e o coloca no campo da civilização, ou seja, a par- tir da introjeção da cultura (língua) e das leis o sujeito constitui-se para viver em sociedade. Complementa Rudge (1998) que a partir da linguagem há uma desnaturalização do corpo.
Todo esse caminho percorrido até aqui, na trilha da psicanálise, marca a subversão da concepção do corpo em sintonia com biológico, passando pela dissociação de organismo e corpo e, a partir da concep- ção de pulsão, é possível a dissociação entre sexo/gênero. Nas pala- vras de Butler não existem “[…] relações de coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo” (BUTLER, 2003, p. 38).
Ceccarelli (2017) traz uma passagem do Seminário 11, que para o autor remete às questões de gênero, já que as bases que sustentariam as identificações constitutivas do Eu e as futuras escolhas de objeto são vicissitudes das relações do recém-nascido com o Outro,“ […] no psiquismo não há nada pelo que o sujeito possa situar-se como ser de macho ou ser de fêmea […] aquilo que se deve fazer, como homem ou mulher, o ser humano terá sempre que aprender, peça por peça, do Outro” (LACAN, [1964] 1973, p. 228-229).
O infamiliar – O Eu e o olhar do Outro
Dá-me um barco […] E tu para que queres um barco […]. Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido […],
A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate […], estão todas nos mapas,
Nos mapas só estão as ilhas conhecidas […]
(José Saramago)
A fim de compreender melhor acerca do organismo e do corpo, e para adentrar ao tema sobre o eu e o olhar do Outro, recorre-se ao potencial esclarecedor e tropológico da literatura. A partir do excerto supracitado, o organismo pode ser compreendido como as ilhas conhecidas (campo da biologia), aquelas que já estão postas; o corpo como as ilhas desconhecidas (situado no campo da psicanálise), aquelas que são descobertas a partir da busca do sujeito em desejar para além do campo do olhar alienante do outro. Esse olhar que, ao mesmo tempo o constitui, aliena e dificulta o sujeito descobrir seus próprios desejos, ou, descobrir outras inúmeras ilhas, as desconhe- cidas, as não inscritas em manuais/mapas, aquelas que podem ser mais surpreendentes e exuberantes. Ou seja, não há harmonia para o eu humano, pois a apreensão de sua corporeidade sempre oscilará, visto que será dada justamente a partir do olhar do Outro.
Vacilante porque não é apreensível imediatamente, não pode ser objetiva, já que está intermediada, ou seja, o nosso corpo é, também, mediado pela imagem; esta é dada pelo Outro, que antecipa nele a imagem total a partir de um desejo que não provém de si. Deste modo, o sujeito fica inserido no campo do desejo do Outro, aliena-se a este instituindo-se como objeto. Para nos constituirmos enquanto sujeitos não temos saída, somos fruto de uma alienação com o Outro e seu desejo. Como escreveu Lacan (1964/2008) no Seminário 11, há uma escolha forçada, já que para nos constituirmos é um processo de alienação, é uma escolha forçada: “a bolsa ou a vida! Se escolho a bolsa, perco as duas” (p. 207), por certo o sujeito tem que escolher a vida.
Este corpo-imagem é tramado por uma história e traz na sua estrutura um discurso, dito de outro modo, este é mediado pelo significante, pela linguagem. Assim, para o humano, que é habitado pela linguagem e só por ter linguagem tem inconsciente, só é possível reconhecer-se enquanto corpo quando reconhecido pelo olhar do
outro, há assim um espelho “ideológico”, pois o sujeito é atravessado por esse outro que não devolve apenas a imagem de corpo biológico, neutro, mas o que esse espelho ideológico traz e o que ele quer, deseja ou demanda desta imagem. Este espelho “ideológico” me devolve tanto aquilo que o sujeito é, quanto aquilo que o sujeito não é, bem como aquilo que o sujeito deveria ser.
É de Freud a máxima de que o que temos de mais íntimo é o que nos é mais estranho. Há um estranhamento em habitar a própria pele, aquilo que escapa à palavra, à possibilidade de nomeação e repre- sentação. Destarte, o corpo e a sexualidade são duas dimensões do estranho e a psicanálise traz uma perspectiva singular para refletir sobre esse estranho que me habita. Haveria assim algo para supor- tar – na própria pele – nesse estranho que me habita, abrindo espaço para a singularidade, buscando usufruir de seu corpo e de sua vida de uma forma inédita. Um corpo faz continuamente uma travessia, buscando formas de existir, porém o que a norma quer é um corpo que se enquadre nos ditames da moral, que os nossos corpos sejam silenciados nas suas diferenças, na perspectiva estrangeira de todos nós de existirmos.
Não há como superarmos a hiância entre corpo e mente, entre o eu e o outro. E não há, não porque é um corpo trans, negro, feminino, etc, mas porque sempre haverá uma irredutibilidade entre o si mesmo e o outro, haverá sempre uma fenda entre o imaginário, simbólico e real. Zizek (1997) nos alerta que na ordem simbólica, não estamos realmente nus, mesmo que estejamos sem roupas, pois a nossa pele funciona como “vestimenta da carne”. Deste modo, podemos nos afastar do imaginário e cravarmos nossas estacas no simbólico, mas sobre o Real só podemos fazer uma pequena aproximação, pois há uma suspensão que exclui o “real da substância vital, sua palpitação; uma das definições do real lacaniano é que ele é o corpo esfolado, es- calpelado, a palpitação da carne vermelha, viva” (ZIZEK, 1997, p. 220).
Assim, há sempre um infamiliar que habita todos nós, mas há aqueles que não suportam mirar o seu próprio estranhamento. No ponto de vista do infamiliar, Freud (1919/1996) traz a análise de que há algo do oculto, mesmo que tenha sido recalcado, volta, por algum motivo, à luz, trazendo uma sensação de angústia:
[…] pois esse estranho não é nada novo ou alheio, porém algo que é familiar e há muito estabelecido na mente, e que somente se alienou desta através do processo da repressão. Essa referência ao fator da repressão permite-nos, ademais, compreender a definição de Shelling (p. 242) do estranho como algo que deveria ter permanecido oculto, mas veio à luz. (FREUD, 1919/1996, p. 258).
E há inegavelmente uma implicação do infamiliar postulado pela psicanálise nas reflexões e no trabalho do psicanalista frente aos corpos6 que são colocados à margem, maltratados, ignorados, violentados, excluídos, assassinados, despedaçados, mutilados. O que se implica do infamiliar nos ataques cruéis dados aos corpos que ‘não se enquadram à moral civilizada’? Lima (2021) traz um en- trelaçamento com os ataques cruéis ao sugerir que o que estaria em jogo seria a angústia do ‘macho’ frente a alguém que parece — ou tem permeabilidade a — ocupar uma posição dita feminina. Em boa parte desses relatos, o ‘veado’ é tomado como ‘mulher’ — por parte daqueles que se situam numa posição de ‘macho’.
Lima (2021) pergunta se a homofobia seria mobilizada por uma desestabilização que parece se produzir na fantasia, a partir do en- contro entre o ‘macho’ e algo que ele não pode reconhecer na imagem especular. Baseando-se na leitura do Seminário 10 de Lacan, Lima (2021) traz que algo na bicha feminizada faz vir à luz algo que ele não pode situar dentro das suas categorias do entendimento, produ- zindo angústia. Assim, sob a roupagem da bicha, transfere-se para
6 Sempre haverá um estranhamento de todos os corpos.
a cena a posição do objeto, de um outro, que assim ficaria no lugar de dejeto, evitando aquilo que cada sujeito não pode ver, devendo ficar recalcado.
Assim, sob a roupagem da bicha, o abjeto traz para a cena a posição de Em vista disso, a leitura do artigo de Lima traz uma pos- sibilidade de pensar os crimes de homofobia a partir dessa posição dos sujeitos LGBTQIA+ que se torna atrelada à posição feminina, na qual todos os neuróticos, mas em particular o ‘macho’ não quer saber. Assim o que retorna e só pode retornar sob a forma do infamiliar é a fantasia inconsciente e insuportável do feminino, que segundo Freud (1937/1996), constitui o limite da análise para os homens. Há assim um repúdio da feminilidade, já que estar nessa posição seria adotar uma postura passiva – de objeto – frente a outro homem.
Para não concluir…
Desta forma, seguindo o exemplo de Freud, os psicanalistas não devem retroceder desse lugar subversivo, é preciso trabalhar para além dos parcos sujeitos que nos procuram em sofrimento, é preciso se debruçar continuamente sobre os obstáculos que ocorrem para um bom funcionamento dos sistemas públicos, a violência praticada pela polícia e, a crueldade inominável perpetrada contra os corpos trans, o racismo estrutural e os privilégios da branquitude, a população LGBTQIA+ e, aqui em particular, o traviarcado.
Como exposto, a violência contra o corpo da travesti acontece no campo simbólico (linguagem), com ataques verbais, xingamentos, até mesmo de modo objetivo, surras, pedradas, e outras formas tantas de tentar ridicularizar este corpo, como se essas pessoas ocupassem um lugar de estranhamento, de infamiliar, e que devessem sofrer os mais diversos suplícios possíveis. Há que se perguntar: por que um
corpo/sujeito desperta tanto incomodo no outro a ponto de este que- rer exterminá-lo? Talvez o fato de buscar um encontro mais singular consigo, com seu corpo, com seus desejos, sejam pontos que tragam indignação para a maioria das pessoas da sociedade. Mas uma coisa mostrou-se explícita ao falar de corpo travesti no contexto brasileiro: às vezes, percorrer o caminho da descoberta, do encontro com o desejo que habita o sujeito, o reconhecimento de si, pode ser uma tarefa árdua no qual há que se pagar um preço, um alto preço de ser interpretado pelo outro como um louco, assim como muitas travestis foram inter- pretadas no decorrer da história, sendo vítimas das mais diferentes formas de violência por serem enxergadas, também, como obscenas.
A artista Madonna (1992), ao ser questionada se a obscenidade existe, respondeu que: “Existe e está diante de nossas caras. É o racismo, a discriminação sexual, o ódio, a ignorância, a miséria. Há coisa mais obscena que a guerra?”. E completamos: o descaso do Estado frente aos diuturnos ataques contra sujeitos marginalizados é obsceno, a exclusão é obscena, o desejo de extermínio de uns para com os outros é uma das maiores obscenidades que podemos nos deparar atualmente, é obscena a palidez de tantos profissionais e da sociedade frente à discriminação e às práticas de preconceito contra o outro e, faz-se importante ressaltar o que já fora discutido, é obscena a expectativa de vida atual de pessoas travestis no Brasil ser de ape- nas 35 anos (próxima a de um brasileiro não escravizado em 1880).
A questão que deve ressoar para todos nós – cidadãos – é: “Quem protege as crianças LGBTI?” (ANTRA, 2021, p. 39), quem protege o adulto LGBTQIA+, os marginalizados e excluídos. Além destes im- portantes questionamentos, cabe complementação às interrogações, onde está o Estado para proteger essas minorias do medo que os ronda por serem vítimas diuturnamente de ataques violentos.
O diferente não deveria ser elevado ao estatuto do estranho –
infamiliar – que deve ser excluído, eliminado por causa da sua dife-
rença, pelo contrário, antes deve-se compreender que essa rosácea de diferenças e possibilidades do ser humano o faz tão único.
A psicanálise deve alcançar todos, inclusive os corpos mais vigia- dos, e aqui faz-se referência às travestis/transsexuais, que por vezes têm dificuldade de chegar aos consultórios por inúmeros motivos. Com o propósito de elucidar a partir do componente metafórico do texto literário, como afirmou Lispector (2016), algo em mim faz com que eu dê água a outras pessoas e isso não deve ser explicado a partir do fato de eu ter água “[…] mas porque, também eu, sei o que é sede” (p. 388).
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